As estudantes Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeira Soares Foffano se pronunciaram nesta quarta-feira (9) após a repercussão de um vídeo em que são acusadas de debochar da história clínica de Vitória Chaves da Silva, de 26 anos, paciente transplantada três vezes e internada no Hospital das Clínicas da USP. Vitória faleceu dias depois da publicação, o que intensificou a repercussão.
Em nota assinada por ambas e seus advogados, as alunas afirmam que o vídeo publicado no TikTok tinha apenas o objetivo de demonstrar surpresa diante de um caso clínico raro mencionado no estágio. Elas garantem não ter tido acesso ao prontuário médico de Vitória, tampouco sabiam sua identidade.
“As informações divulgadas foram de natureza genérica e sem exposição de imagem”, argumentam. Gabrielli e Thaís negam qualquer intenção de deboche ou insensibilidade, e dizem que o conteúdo reflete apenas “curiosidade acadêmica”.
“As falas não foram feitas com escárnio, mas sim com espanto diante de um caso incomum”, reforçam. Elas ainda prestaram solidariedade à família de Vitória e afirmam estar adotando medidas para proteger suas integridades pessoal e acadêmica. Thaís declarou que sofre com o impacto emocional da repercussão: “Como fica a saúde mental de uma estudante que se vê alvo de ódio e julgamento na internet?”, questiona.
A publicação feita em 17 de fevereiro viralizou e já somava mais de 212 mil visualizações antes de ser deletada na última terça-feira (8). No vídeo, as estudantes comentam sobre os três transplantes cardíacos de Vitória, feitos na infância, adolescência e maioridade, e relatam o desejo de encontrá-la pessoalmente. Uma das falas gerou revolta ao dizer que a paciente “acha que tem sete vidas”.
Onze dias após a gravação, Vitória faleceu em decorrência de um choque séptico e insuficiência renal crônica. Segundo a mãe, Cláudia Chaves, as estudantes repassaram informações inverídicas sobre o tratamento da filha. “Temos provas de que ela seguia à risca todas as recomendações médicas”, afirma. Ela pede justiça e lamenta a exposição da história de Vitória.
A Secretaria de Segurança Pública informou que o caso é apurado como injúria e segue sob investigação pelo 14° Distrito Policial de São Paulo. Caso sejam condenadas, Gabrielli e Thaís podem cumprir pena de até seis meses em regime aberto, com possibilidade de prestação de serviços à comunidade.
Instituições envolvidas também se posicionaram. O Incor afirmou que está apurando o ocorrido internamente e repudia qualquer violação ética. A Faculdade de Medicina da USP destacou que as alunas não têm vínculo acadêmico com a universidade — participaram apenas de um curso de extensão temporário — e notificou as faculdades de origem das estudantes.
As instituições de ensino superior Anhembi Morumbi e Faseh, onde Gabrielli e Thaís estudam, emitiram nota conjunta reforçando que o episódio não condiz com seus valores e anunciaram medidas internas para apuração rigorosa do caso. Ambas lamentaram a morte de Vitória e se solidarizaram com a família.