Frutas e verduras que não atendem ao padrão estético dos mercados frequentemente acabam descartadas, mesmo estando próprias para o consumo. Em Mato Grosso do Sul, produtores e comerciantes têm buscado alternativas para reduzir esse desperdício, transformando alimentos “fora do padrão” em doações, insumos para restaurantes e produtos reaproveitados.
O tema ganha relevância diante dos números preocupantes: segundo a ONG Pacto Contra a Fome, cerca de 300 mil pessoas enfrentam a fome no estado. Em nível nacional, quase 30% da produção de alimentos é desperdiçada — o que equivale a 48 milhões de toneladas por ano. Para suprir a demanda de toda a população brasileira em situação de fome, seria necessário menos de 15% desse volume.
Entre os que ajudam a mudar essa realidade está o produtor Cézar Macedo, de Campo Grande. Com uma horta no bairro Vilas Boas, ele doa parte da produção que não é vendida. “Quando sobra, encaminhamos para instituições de acolhimento. É um jeito de garantir que nada se perca”, afirma.
A prática se repete entre trabalhadores rurais e entidades sociais. Carlos Henrique dos Santos, agricultor, relata que a rotina inclui acionar ONGs para colher os alimentos diretamente da plantação. Já nas instituições beneficiadas, como abrigos infantis, o aproveitamento dos alimentos vira também aprendizado. “Além de sustentar, ensina às crianças o valor de não desperdiçar”, conta Luiz Carlos Gonçalves, responsável por uma das entidades.
No comércio, a estratégia passa pela criatividade. Na Ceasa/MS, a comerciante Andréa Jaqueline Ribeiro separa tomates para restaurantes, congela frutas para sucos e prepara kits de legumes para sopas. “O maracujá é o exemplo perfeito: a casca feia esconde a melhor polpa. Hoje é o que mais vendemos congelado”, explica.
De acordo com especialistas do Pacto Contra a Fome, o problema não está na falta de produção, mas na desigualdade e na ausência de políticas públicas eficazes. Nesse contexto, a conscientização do consumidor também é decisiva: muitas vezes, alimentos com pequenas imperfeições são deixados de lado, reforçando o ciclo de desperdício.
Em Campo Grande, quem deseja contribuir pode procurar o Fundo de Apoio à Comunidade (FAC), que orienta sobre doações de alimentos. O telefone é (67) 2020-1361 e o atendimento é feito na Avenida Fábio Zahran, nº 600, em horário comercial.
A luta contra a fome passa, também, por reavaliar o conceito de “perfeição” nos alimentos e valorizar cada produto que chega à mesa.