Em Campo Grande, cerca de 60 mil pessoas vivem com diabetes e são acompanhadas pelo SUS por meio das unidades da Atenção Primária à Saúde. Apesar do suporte oferecido, como consultas, exames, medicamentos e atividades educativas, os desafios para controle e prevenção da doença ainda são grandes.
A médica Nayara Lobo, que atua na rede pública da Capital, destaca que o sistema de saúde ainda adota uma abordagem focada na doença, voltada ao tratamento imediato, e não à prevenção. “Nossa medicina ainda apaga incêndios”, afirma.
Segundo a médica, muitos pacientes só procuram as unidades em casos emergenciais, o que dificulta o acompanhamento contínuo e efetivo. “O ideal seria uma vigilância em saúde com foco no paciente como um todo, considerando os contextos sociais e econômicos em que ele está inserido.”
🔍 Desigualdade social e hábitos alimentares
Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes estão a baixa renda, vulnerabilidade social e o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes e bolachas. Para muitos, a alimentação saudável ainda é inacessível.
“Se a população não tem condições financeiras para comprar alimentos de qualidade, como ela vai se alimentar bem?”, questiona Nayara. O caso da dona de casa Sônia de Souza, de 64 anos, ilustra essa realidade. Após anos com dieta baseada em carboidratos, ela recebeu o diagnóstico e precisou mudar hábitos. “Mas dá pra viver bem”, afirma.
💊 Limitações do SUS e acesso a medicamentos modernos
Mesmo com a recente ampliação do programa Farmácia Popular, o acesso a medicamentos de ponta ainda é restrito. Um exemplo é a dapagliflozina, eficaz no controle da glicemia, mas limitada a faixas etárias específicas.
Além disso, o SUS oferece apenas dois tipos de insulina e não distribui fitas para medição glicêmica, essenciais para o automonitoramento dos pacientes.
👥 Acompanhamento multiprofissional é essencial
O tratamento eficaz do diabetes vai além dos remédios: exige mudanças alimentares, prática de exercícios e suporte contínuo de equipe multidisciplinar, incluindo nutricionistas e educadores físicos.
No entanto, o ritmo da vida moderna dificulta esse acompanhamento, especialmente para trabalhadores em regime CLT. “Quem trabalha em horário comercial não consegue ir à unidade de saúde sem perder o dia de trabalho”, aponta a médica.
Para ela, outro desafio é a falta de compreensão dos pacientes sobre sua própria condição. “Não é em uma única consulta que conseguimos transmitir todas as orientações. É preciso retorno e continuidade no cuidado.”