Em um momento inédito da história política do Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi interrogado nesta terça-feira (10) no Supremo Tribunal Federal (STF), como réu em um processo que investiga tentativa de abalar a ordem democrática e anular o resultado das eleições de 2022.
Com postura contida, o ex-mandatário adotou tom moderado e evitou provocações durante o depoimento. Disse que jamais cogitou um golpe, que respeitou a Constituição “do primeiro ao último dia” e negou qualquer articulação com militares ou envolvimento com a minuta golpista encontrada com seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid.
Bolsonaro também se isentou de responsabilidade sobre os ataques de 8 de janeiro e declarou desconhecimento sobre a operação da PRF no Nordeste durante o segundo turno eleitoral.
Estratégia de negação e contraste com o passado
A estratégia de defesa adotada no STF contrasta com a retórica que marcou sua gestão: ataques recorrentes ao sistema eleitoral, desconfiança nas urnas, insinuações de fraude e embates constantes com o Judiciário. Agora, o ex-presidente tenta se descolar de um cenário que ele mesmo fomentou.
Entretanto, provas documentais já reunidas nos autos colocam essa versão em xeque. Há registros de reuniões com militares de alta patente, rascunhos de decretos de exceção, além de mensagens e vídeos que indicam alinhamento com estratégias antidemocráticas.
O depoimento é mais do que uma formalidade jurídica — é um divisor de águas entre discurso e responsabilidade. Cabe ao Judiciário, agora, separar o teatro da verdade e julgar com base nos fatos e evidências. A democracia brasileira, alvo de ataques recentes, mostra que está vigilante.
