A Feira Mixturô, realizada há mais de três anos na Praça do Peixe, no bairro Vilas Boas, voltou a ser tema de debate após a sua interrupção no último sábado (13). O evento, que acontece mensalmente e reúne artesanato, gastronomia, cultura e empreendedorismo criativo, foi paralisado de forma abrupta durante uma fiscalização motivada por uma denúncia de perturbação sonora, gerando prejuízos a expositores e comerciantes locais.
O episódio reacende a discussão sobre a importância de espaços culturais que valorizam a economia criativa e fortalecem o tecido social da cidade, bem como sobre a necessidade de garantir segurança jurídica e critérios claros de fiscalização, conforme defendem representantes públicos, frequentadores e a própria organização da feira.
O impacto da paralisação e o direito à cultura
A intervenção da Polícia Militar Ambiental, que determinou o desligamento do som e do gerador que abastecia a estrutura da Mixturô por volta das 20h30, surpreendeu expositores que dependem do evento para gerar renda, muitas vezes equivalente a parte significativa de sua economia mensal. A organização informou que, mesmo após mover o gerador e reduzir o volume do som, foi exigido o desligamento completo do equipamento, inviabilizando a continuidade da feira na noite.
A organizadora Carina Zamboni relatou que a ação ocorreu de forma repentina e que, apesar da intenção de cooperar com os órgãos de fiscalização, a falta de diálogo trouxe prejuízos. “A feira ficou sem energia por muito tempo. Quando foi liberado, já era tarde, na prática a feira havia acabado. São famílias trabalhando e muitas barracas dependem de energia para funcionar”, afirmou.
Zamboni destacou também que, em seus mais de três anos de realização, a feira nunca havia enfrentado problemas similares de interrupção dessa natureza. O evento, que começou como Feira da Praça do Peixe, hoje reúne cerca de 150 expositores entre artesãos, empreendedores da gastronomia e da economia criativa.
Defesa pública da feira e propostas de solução
Parlamentares municipais manifestaram apoio à Mixturô e cobraram diálogo e protocolos claros para evitar novos episódios que coloquem em risco atividades culturais e econômicas. O vereador Maicon Nogueira (PP) recebeu Carina Zamboni em seu gabinete para ouvir relatos dos empreendedores e construir uma solução que concilie fiscalização com respeito ao trabalho dos organizadores. Nogueira propôs, inclusive, a realização de uma reunião com gestores públicos, forças de segurança e os próprios organizadores para criar um protocolo de abordagem que traga segurança jurídica e previsibilidade para eventos semelhantes no futuro.

Segundo ele, “eventos como a Feira Mixturô geram renda, fortalecem a economia criativa e promovem cultura e lazer para as famílias. Nosso papel é garantir que haja fiscalização, mas com critérios claros, bom senso e respeito por quem está trabalhando”.
O vereador Landmark Rios (PT) também se posicionou em defesa da feira, ressaltando que ela desempenha um papel social e econômico importante. Para Landmark, o episódio evidencia a necessidade de tratar conflitos por meio do diálogo, e não da repressão. “A feira gera renda para muitas famílias, movimenta a economia local e é um espaço de cultura. O caminho não é oprimir quem trabalha, mas construir soluções para que todos convivam em respeito mútuo”, destacou.

Cultura, economia e direito de uso do espaço público
A Feira Mixturô integra o calendário cultural informal de Campo Grande e movimenta a Praça do Peixe em tardes e noites de encontros comunitários, atraindo público familiar e fomentando a economia criativa local. Eventos desse tipo encontram respaldo na legislação municipal que reconhece o valor cultural das feiras e mercados ao abrir espaço para o uso de áreas públicas como ambiente de convivência, geração de renda e expressão cultural, um princípio alinhado às diretrizes de incentivo à economia criativa e ao uso comunitário do espaço urbano.
Especialistas e defensores do evento ressaltam que, ao exercer essa função, a feira contribui para o fortalecimento da identidade cultural da cidade e para o acesso à cultura e ao lazer, aspectos previstos em políticas públicas de desenvolvimento local.
Um caminho de diálogo e fortalecimento
A crise vivida no último sábado serve como ponto de partida para repensar mecanismos de convivência entre moradores, empreendedores culturais e órgãos de fiscalização, reforçando a importância de protocolos que garantam transparência, segurança jurídica e respeito aos direitos culturais e econômicos. O encontro proposto na Câmara Municipal, que incluirá representantes dos organizadores, da administração pública e das forças de segurança, é uma oportunidade para construir soluções duradouras, que não apenas resguardem o direito à cultura, mas também assegurem que espaços públicos continuem sendo ambientes de encontro, criatividade e desenvolvimento econômico para toda a comunidade.